História do Cassino da Urca

No ano de 1922, realizou-se na cidade do Rio de Janeiro a mais importante Exposição Internacional da época.

Os pavilhões localizavam-se, em sua maioria, na entrada do bairro da Urca. Na ocasião, a cidade carecia de vagas em bons estabelecimentos hoteleiros.

A sucessora da S.A. Empresa da Urca, a Companhia Imobiliária e Construtora do Rio de Janeiro decidiu que era a oportunidade de criar um atrativo para o novo bairro. Por essa razão, foi construído aquele que viria a ser o Cassino da Urca.

Nascia o Hotel Balneário da Urca.

Em relação ao nome do bairro, existem algumas teorias. Há quem diga que era o nome do navio do holandês Olivier Van Noort, o LeBlond (que deu origem ao nome do bairro Leblon). Ou seria por causa do morro rochoso que lembra um tipo de embarcação antiga usada pelos holandeses para transporte de carga. A teoria mais aceita e dada como oficial é a de que o nome "Urca" seria a sigla de Urbanização Carioca, empresa que foi responsável pelo aterro e urbanização do bairro.

Como hotel, o prédio nunca se destacou. Era considerado um hotel mediano. Tinha pouco mais de 30 quartos e não tinha perspectiva de crescer e se destacar no cenário da Cidade Maravilhosa.

Os administradores do hotel, diante do lucro baixo, viram a necessidade de acrescentar ao estabelecimento atrações para aumentar o número de hóspedes.

Nascia assim, em 1933, o Cassino da Urca.

Nesse ano, quando foi criado, o Cassino da Urca passou à funcionar com pouco glamour. Tinha concorrentes de peso na cidade, como o Cassino Atlântico, o Cassino do Copacabana Palace, e fora da cidade, como o Cassino Icaraí em Niterói.

Ainda no ano de 1933, o empresário mineiro Joaquim Rolla ganhou parte do próprio Cassino da Urca durante uma aposta. Empreendedor, iniciou assim o período de glamour do prédio. Ofereceu serviço de barcas ligando a Urca ao bairro de Icaraí, em Niterói. Com isso, atraiu clientes do cassino da cidade vizinha, também de sua propriedade. Conseguiu, com seu prestígio, convidar grandes celebridades da época como Orson Welles, Nat King Cole, Getúlio Vargas, Walt Disney e - ironicamente - aquele que viria à se tornar dono do prédio do Cassino, seu amigo Assis Chateaubriand. Passou à oferecer show fixo com Carmen Miranda.

Desde a posse do Presidente Dutra, em 1946, o jornal O Globo iniciou violenta campanha contra os cassinos no Brasil. Publicava uma série de artigos e editoriais pressionando o governo para que proibisse os jogos de azar. Havia preocupação maior em fechar o Cassino da Urca, que era da predileção de Getúlio Vargas, antigo desafeto de Roberto Marinho. Dizia O Globo, entre outras coisas, que a extinção daquele "flagelo" era um "imperativo urgente do saneamento social". 

O governo Vargas havia terminado há menos de um ano. E tudo o que fosse ligado ao antigo regime precisava ser banido.

Curiosamente, Roberto Marinho (que já comandava o jornal O Globo e a Rádio Globo) era viciado em jogos de azar e frequentava o Cassino da Urca (bairro em que morava) todas as noites. Foi ameaçado por sua mãe de afastamento do comando do jornal. Precisou escrever uma carta para ela, prometendo afastar-se do vício, para poder manter o comando sobre o grupo que herdara do pai.

De uma fazenda em que se recuperava das farras, escreveu: 

“Não sei se desta vez estou realmente cansado da vida agitada... É a primeira vez que te faço promessa escrita, e a esta não faltarei: a de retomar firme o trabalho, evitar os telefonemas exagerados e as demais coisas que possam desprestigiar o Globo. Não quero dar mais a ninguém o ‘gostinho’ de poder fazer comentários maldosos a meu respeito... Se tiveres com o Eurycles, fala sobre a minha permanência na fazenda, a necessidade de descansar de alguns excessos que ultimamente fiz no Rio."

Mesmo após essa carta, Marinho continuava à frequentar o Cassino da Urca. Há quem considere esse o principal motivo da campanha de seu jornal pelo fim dos cassinos. Seria a única forma de afastá-lo do vício.

Em 30 de abril de 1946, três meses depois de assumir a Presidência da República, o general Eurico Gaspar Dutra, com um decreto-lei, ordenou o fim dos jogos de azar.

Terminava assim, após 13 anos de existência, a glamourosa história do Cassino da Urca.

O prédio do antigo Cassino fica fechado por 8 anos. Seu período de glamour voltaria no segundo semestre de 1954 com a instalação da TV Tupi do Rio de Janeiro.

A TV Tupi - inaugurada em São Paulo no ano de 1950 por Assis Chateaubriand - chega ao Rio de Janeiro no ano seguinte. No Rio, a Tupi funcionava num prédio com pouco espaço na Avenida Venezuela - Centro.

Com poucos anos de existência da Tupi no Rio, Chateaubriand vê necessidade de mais espaço para gravação de seus programas, afinal ele pretendia inaugurar a linha de shows que viria a ser uma das marcas registradas da Tupi. Chateaubriand, que era assíduo frequentador do Cassino da Urca, adquire de seu amigo Joaquim Rolla o prédio já sem função para a instalação de sua TV.

Durante os anos de 1953 e 1954, Chatô (como era popularmente conhecido) executou obras de acréscimo no prédio. Não foi a Tupi que alterou a varanda circular do antigo Hotel Balneário. Essa alteração foi feita para a construção do Salão de Jogos do Cassino. Mas Chatô fez obras de acréscimo radicais. Lacrou todas as janelas que davam para a praia, com paredes. Adicionou um andar ao prédio já existente, com aspecto totalmente diferente do padrão. Mas apesar do prédio ter se tornado um "caixote", ficou mais funcional para os interesses da rede de televisão. O bloco que dava para a praia ganhou os escritórios da TV e alguns estúdios de novelas, pequenos programas e telejornais. O bloco encostado no morro do Pão de Açúcar ficou com o grande auditório com capacidade para 600 pessoas (onde antes funcionava o grill do Cassino).

Assim, no segundo semestre de 1954 são inaugurados os estúdios da TV Tupi no antigo Cassino da Urca.

E graças à tecnologia, o teatro do Cassino que antes era reservado à privilegiados da elite brasileira (e até mundial), torna-se acessível à todos os brasileiros pelas ondas da TV Tupi. Programas de sucesso passam à ser transmitidos de lá. Discoteca do Chacrinha, a versão carioca de Almoço com as Estrelas, Flavio Cavalcanti, são algumas das atrações de sucesso. Diariamente pessoas faziam filas imensas na porta da TV Tupi para assistir aos programas. O bar ao lado do prédio ficava sempre lotado de artistas.

Mas a ideia de tornar cada afiliada da Tupi independente administrativamente mostrou-se péssima. A Rede Tupi passava por sérias dificuldades financeiras. Seus funcionários não recebiam salários e viam a empresa afundar em dívidas.

Em 16 de julho de 1980, faltando apenas dois meses para completar 30 anos no ar (26 deles no Cassino da Urca), a Tupi tem 7 de suas 10 concessões declaradas peremptas (termo jurídico que significa "não-renovável") pelo Governo Federal; a decisão foi publicada no Diário Oficial, no dia seguinte.

À partir das 20 horas de 17 de julho artistas e funcionários da Tupi iniciaram uma vigília na sede da Urca, transmitida ao vivo por toda a madrugada, até o final da manhã do dia seguinte. Outras TVs como Globo e Bandeirantes cederam seus artistas para que comparecessem à vigília. A emoção tomou conta de todos. Muitos choravam.

Minutos antes do meio-dia de 18 de julho, engenheiros do Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel) lacraram os transmissores. 

A TV Tupi do Rio de Janeiro saía do ar e encerrava definitivamente suas atividades.

E o antigo Cassino da Urca voltaria à viver anos de abandono... só que dessa vez de forma mais cruel.

Pessoas invadiram o prédio e fizeram dele moradia. Placas, tapetes e pequenos ornamentos com a logomarca da Tupi foram furtados. Parecia que o destino do velho Cassino era o desmoronamento causado pelas inúmeras infiltrações de água e árvores que cresceram dentro de suas dependências.

Mas no ano de 1990, o antigo auditório da Tupi ganhou sobrevida.

A TV Globo decide gravar a minissérie AEIO... Urca, ambientada no antigo Cassino. Planejava-se inicialmente recriar o cassino nos estúdios da Globo. Ocorre que a estrela principal do Cassino era o fosso com o palco móvel. A produção da Globo resolve então reformar o antigo teatro do Cassino da Urca para as gravações. A parte externa é recriada no Projac.

Após a mini restauração do teatro do Cassino - realizada pela TV Globo - o prédio vive novo e pior abandono.

Em 2006, a posse do prédio do Cassino da Urca é cedida ao Istituto Europeo di Design - IED por período de 25 anos, renovável por mais 25. O projeto de restauração era algo grandioso. 

Envolvia a derrubada do monstruoso andar acrescentado pela TV Tupi, a reabertura das janelas para a praia da Urca e reforma total do interior dos dois blocos, incluindo o velho teatro e auditório. Mas a associação dos moradores da Urca entrou na justiça para barrar as obras, alegando que o grande número de alunos do Instituto impactaria na vida dos moradores do bairro.

Assim, apenas o bloco da praia foi reformado e entregue em maio de 2014.

Muitas pessoas - principalmente quem não mora no Rio de Janeiro - confundem-se com a mistura de informações e imagens antigas e atuais do prédio, encontradas na internet. Assim, não entendem se o prédio está reformado ou não.

Então vamos lá:

O bloco da praia está 100% reformado, tanto interna como externamente. O bloco encostado no morro está totalmente destruído. É nesse bloco que se encontra o antigo auditório da Tupi. As obras desse bloco foram aprovadas para início em março de 2016 com previsão de duração de 3 anos. O auditório se transformará num teatro para 500 pessoas. A capacidade original do auditório era para 600 pessoas.

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Esse artigo apresenta um resumo do meu site. Para o texto na íntegra e as belas imagens (muitas exclusivas) acesse cassinodaurca.weebly.com